Caríssimos Bloguistas,
Por nos encontrarmos a cerca de meio desta missão, solicitei ao gestor do Blog que me desse a oportunidade de endereçar algumas palavras a todos aqueles que nos têm acompanhado à distância, agradecendo desde já a vossa constante visita.
Não vos vou falar do dia-a-dia do Comandante, apesar de estar convicto que muitos perguntarão “o que é que ele faz?”, mas sim dos meus deveres e preocupações.
Ser Comandante de uma unidade naval é uma enorme honra e orgulho, como é para qualquer Marinheiro poder servir Portugal e a Marinha nos navios, pois são estes que materializam, permanentemente, aquilo que são os deveres e obrigações da nossa instituição para com o estado e povo português.
E é neste contexto que a fragata Vasco da Gama se encontra no Oceano Indico, integrada na Operação Atalanta, como contributo da Marinha em apoio à política externa de Portugal, neste caso particular, no âmbito da União Europeia, com o objectivo de escoltar os navios do Programa Alimentar Mundial que transportam ajuda humanitária a dois milhões de deslocados Somali, e em simultâneo reprimir qualquer actividade de pirataria no Mar da Somália e no Golfo de Aden.
Aliás, aproveito a oportunidade para fazer um breve balanço da missão até ao momento. Pode-se afirmar que a Vasco da Gama já realizou todo o tipo de tarefas associadas à missão, se não vejamos: Patrulhámos ao longo do Corredor de Tráfego Recomendado Internacional (IRTC), no Golfo de Aden, protegendo os cerca de 70 navios mercantes que aqui navegam por dia; patrulhámos em mar aberto na tentativa de localização de embarcações suspeitas em colaboração directa com os aéreos de patrulha marítima; vigiámos a costa da Somália, de forma a avaliar a actividade nos pontos de apoio logístico dos piratas e em simultâneo evitar que alguma embarcação suspeita tente largar para alto-mar ou que regresse deste para se reabastecer; e por último, neste caso a tarefa mais importante, já realizámos uma das escoltas que vos mencionei anteriormente. Adicionalmente, já efectuámos duas disrupções a embarcações suspeitas, apreendendo diverso material passível de ser utilizado em actos de pirataria.
Resumindo, o balanço é bastante positivo e todos nós vamos continuar empenhados como até agora para que no final possamos regressar com o sentimento de missão cumprida.
Retornando à acção de comando.
A palavra comando, para além da associação que tem a conceitos como dirigir, liderar ou gerir recursos, está também associada a expressões como “a par de” ou de “conjuntamente”. Isto significa que apesar da decisão final e da responsabilidade sobre as respectivas consequências serem sempre do Comandante, sempre que este entender adequado, aconselhar-se-á com os seus mais directos colaboradores, o Imediato e os Chefes de Departamento, para que a tomada de decisão seja a mais consistente e sustentada possível.
Mas o grande desígnio do Comandante é o cumprimento da missão que lhe está atribuída, qualquer que esta seja, mais complexa ou simples, mais curta ou longa. O Comandante tem que colocar os 190 homens e mulheres da guarnição focalizados nas diversas tarefas associadas a essa missão, definindo e explicando o Objectivo e as Prioridades do Comando, de uma forma permanente e dinâmica, pois todos têm uma função fulcral para que estas tarefas sejam executadas de uma forma eficaz e eficiente, garantindo na máxima extensão possível a segurança do pessoal e do material.
Esta poder-se-á dizer que é a parte técnica da equação, existindo uma outra que é tão importante como a anterior, a parte humana. Garantir o bem-estar e o bom ambiente a bordo é essencial para a criação de uma atmosfera saudável, pois a guarnição, chamada de “família naval”, é a nossa “segunda família”, ou mesmo a “primeira” em missões longas como a actual, e se todos se sentirem felizes a bordo, tudo se faz e concretiza de uma forma natural e com satisfação.
Enfim, ser Comandante significa decidir, liderar e responsabilidade, objectivo e pretensão de qualquer oficial da classe de Marinha, do qual tento extrair todos dias ensinamentos para o futuro e a maior satisfação pessoal possível.
No entanto, continuo a comungar da opinião que o cargo mais exigente e complexo, mas ao mesmo tempo, o mais recompensador, que um oficial da classe de Marinha pode exercer é o de Imediato, a quem lanço o repto de aqui proporcionar aos nossos bloguistas a oportunidade, neste caso sim, de conhecerem o dia-a-dia mais atarefado de bordo.
Agradeço a todos a atenção prestada, desejando que se mantenham em contacto connosco e que passem a palavra ao maior número possível de familiares e amigos da existência deste Blog, pois todos vocês têm o direito, mas também a obrigação, de saber o que estamos a fazer.