…hoje a barca amanheceu envolta em bruma, não na bruma pura de branca, aquela de que esperamos que D. Sebastião volte há já cinco séculos, não… aqui a bruma tem cor, a cor do deserto, ou não estivéssemos nós entre o ocre das areias da península Arábica e o amarelo do longo deserto que vai de Alexandria até Mogadishu… tem cor de quente, cor de húmida, cor que se cola ao navio.
Reina o castanho, nas casas, nas ruas, na pele das pessoas… castanho do ar que se confunde com o tigenado do tempo, do tempo longo de seco e seco do pó…
As noites dos marinheiros são encandeadas pelas estrelas e tocadas pelo salitre, por cá, são também diferentes as noites, acrescentam-se as tempestades de areia… o horizonte é fosco e turvo, é da cor do futuro do Corno de África… e mãos encardem-se com o salitre castanho enquanto se fuma o último cigarro do dia… A rotina repete-se, quem fica para o último cigarro sabe que também irá lavar as mãos a seguir, o último dos últimos cigarros cruza-se com o primeiro de outros, fica um dialogo estranho, «Boa noite!» dizem uns, «Bom dia..» dizem outros…
Adoro estes curtos diálogos mudos que nos dão um pequena ideia das estranhas sensações dos vossos momentos de pausa. Porque os telefonemas são curtos demais para falar acerca destas coisas, porque nem todos sabem usar o verbo para explicar e porque quando chegam cá nunca se consegue explicar tudo o que ficou por aí. Obrigado por nos fazer cúmplices de coisas que dificilmente um dia iremos entender. :)
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