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A Participação da Fragata "Vasco da Gama", como navio-almirante da operação "Atalanta", representa o contributo de Portugal, no âmbito da União Europeia, para garantir o apoio humanitário ao povo da Somália, tal como combater as acções de pirataria no oceano Indico.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

03AGO11:Um dia a bordo do N.R.P. “Vasco da Gama” por CTEN M João Bargado



O dia começa, antes, na realidade não começa, continua, porque a vida não pára a bordo, tal como uma cidade, esta, pequena mas fervilhante.



Bom, temos de dar um início à história, de manhã é um óptimo princípio, e é na alvorada que se desperta.
O pequeno-almoço é servido aos que se preparam para entrar de quarto. Tudo com horas marcadas, claro está, pois quem está de vigilância quer saber que vai finalmente alimentar-se e descansar e quem assume as funções ocupa o posto tal como detalhado, pronto para mais uma pequena aventura, ou não, pois muitas vezes a rotina é companheira de quem anda no mar.


Surgem as primeiras actividades do dia, as limpezas, tarefa rotineira que mantém o navio agradável e seguro para quem cá vive, os briefingues, ponto de situação e momento partilha de informação consequente para a decisão do futuro.



Surgem os exercícios, por regra durante a manhã e tarde. O treino é fundamental para conhecer o navio, testar o material, tornar as acções instintivas e manter o tonus da guarnição, em especial naqueles períodos em que o mundo real não suscita a nossa intervenção.


Treina-se quase de tudo, o que é possível, sem perder a capacidade de reagir ao mundo real a qualquer momento, e claro, com alguém a observar para corrigir e melhorar.
Exercita-se a reacção a ameaças externas, resposta a incidentes a bordo, salvamento de naufragos, socorro de feridos, utilização de sistemas e equipamentos, etc.



Num dia surge o alarme de incêndio, o Engenheiro Chefe do Serviço de Limitação de Avarias acabou de pôr o “passarinho no ninho”, ou seja, a máquina e fumo a produzir uma nuvem para dar realismo ao cenário, entretanto o Médico de bordo posiciona o “Marinheiro Fraquezas” – apelido do boneco para treino de emergência médica - mesmo no caminho do incêndio para ter a certeza que alguém o encontra e faz os primeiros socorros. Noutra ocasião o Imediato atira o OSCAR borda fora e põe-se a gritar “HOMEM AO MAR” – OSCAR é o nome do boneco que simula o naufrago para treino de homem ao mar. Na Ponte, o Marinheiro do Leme anuncia avaria no leme, no MCR - sigla que significa Machine Control Room – O Chefe de Quarto declarada avaria num dos motores ou veios de hélices. 


 O BACARDI, nome de “guerra” do helicóptero, aproxima-se do navio após mais uma patrulha, e o Piloto aproveita o momento para injectar uma simulação de avaria e queda no mar ou aterragem de emergência. Do ETO – Equipamento de Transmissão de Ordens, em portugês, altofalante do navio para difundir ordens, avisos e alarmes para toda a guarnição – ouve-se “CWI, CWI, CWI, DERRAME DE OTTO FUEL NO TUBO LANÇA TORPEDOS NUMERO 3 DE BOMBORDO”, ou seja, fuga de um combustivel altamente inflamável a partir de um dos torpedos. Estes são alguns dos exemplos de cenários para treino de reacções a incidentes a bordo.
 
Sempre que oportuno faz-se tiro. Alvo para água e...fogo, com armas ligeiras, a partir do navio, da embarcações semi-rigidas ou do BACARDI, lembram-se...O helicóptero? Também a Peça de 100 milimetros, vulgo “canhão”, e a PHALANX, arma com elevada cadência de tiro, fazem tiro. No fim, sabemos que os atiradores estão treinados e as armas funcionam.


 Para a equipa de Fuzileiros embarcada também há treino dedicado. Além do tiro, vem a preparação fisica, as técnicas defensivas de progressão em navios, com paintball e tudo, FAST ROPE, ou seja, descer rápidamente do helicóptero através de uma corda, desculpem, cabo.


 Perdi-me a falar do treino e quase me esquecia do almoço. Vou à cozinha e a refeição está pronta para servir, é meio-dia e, o som sai do ETO, “O ALMOÇO VAI SER SERVIDO”. Igualmente como no pequeno-almoço, os primeiros a saborear a magnífica refeição são os elementos que a seguir entram de quarto.


 
O pessoal que foi rendido, almoça e é chamado pelo Mestre do navio para a formatura de limpezas.
A seguir ao almoço, reunião entre o Imediato e os Chefes de Departamento para planear o dia seguinte e antever os seguintes, também, discutir os mais diversos assuntos da gestão da “casa”. Os CD’s, como são chamados os Chefes de Departamento, são os mais directos e preciosos acessores do Imediato para “governar” esta pequena aldeia de irredutiveis marujos.


Os dias vão correndo, entre as rotinas diárias desponta uma embarcação suspeita. O navio aproxima-se, o helicóptero, se não está a voar em patrulha, descola, o Oficial de Quarto à Ponte faz os contactos iniciais via rádio, a equipa de abordagem equipa-se, recebe instruções e embarca nas semi-rigidas previamente colocadas na água. A embarcação suspeita está a pairar, sem seguimento, termo naval que significa que está parada. Está tudo pronto? Armas guarnecidas? Navio e Helicóptero em posição para dar protecção à equipa de abordagem? A decisão de Comando é transmitida, “SEGUIR PARA A ABORDAGEM”. Buscas feitas, tripulantes interrogados, desta feita nada encontrado. Talvez para a próxima... A equipa regressa, o helicóptero aterra no convés de voo, as semi-rigidas são colocadas a bordo e seguimos missão.

 
Estamos no mar, em patrulha, passaram alguns dias e temos reabastecer de combustível para o navio e helicóptero, aproveitamos para embarcar água. Contamos com o precioso apoio de navios reabastecedores que atravessam a área de operações. O encontro no mar foi combinado ao detalhe, juntamo-nos e os dois navios, a navegar, lado a lado, afastados a não mais de 50 metros, iniciam o rebastecimento. É uma operação delicada, pela proximidade entre os dois navios e quantidade de mangueiras e cabos que os unem durante cerca de uma hora, tempo suficiente para encher os tanques de reserva do nosso navio. No parque está uma equipa de cerca de 20 pessoas, todos eles com tarefas bem definidas, coordenados pelo Mestre.

Hora do jantar, e tal como no almoço, o ritual repete-se, “O JANTAR VAI SER SERVIDO”.
Quando existe algo importante a transmitir a todos, faz-se normalmente junto ao jantar, briefing de missão, no início de cada patrulha, briefing de porto antes de cada visita, etc.


Segue-se o briefing de operações de voo para as missões do dia seguinte. Estão todos presentes? O Piloto Comandante inicia com o ritual da verificação horária e introduz o Controlador de Helicópteros que refere todos os aspectos de operação e segurança.
Todos os dados estão reunidos, preparo o planeamento do dia seguinte e vou distribui-lo. Aproveito na passagem para pôr a conversa em dia, recebo as sugestões e reclamações, por vezes, aceito o desafio para uma cartada, que por regra resulta em redonda humilhação pela minha falta de jeito.
Entramos na noite, a companheira do valorosos marinheiros de quarto na Vasco da Gama que continuam a patrulhar o mar garantindo o cumprimento da missão e a segurança do resto da guarnição.
Este é um dos meus dias a bordo do N.R.P. “Vasco da Gama”, como Imediato acompanho de perto toda a actividade da guarnição e por isso também sou apelidado de “dona-de-casa”.

Imediato


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